Governança: Qual é o caminho para uma empresa mais transparente?

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Para muitas empresas, a governança corporativa e transparência aparecem muito mais no discurso do que realmente em ações. 82,1% das startups e scale-ups brasileiras, por exemplo, ainda estão nos estágios iniciais em governança corporativa, afirma uma pesquisa elaborada pela Better Governance, consultoria especializada em governança. Foram avaliadas 148 empresas, 16% delas fintechs, em parceria com a Associação Brasileira de Startups, Distrito, BNDES Garagem, Cubo, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e InvestSP.

Os aspectos de ESG (Environmental, Social and Governance) também são alvo de avaliações não só das próprias empresas, mas de diferentes organizações. A Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC), por exemplo, reconhece e  incentiva a transparência das empresas no que diz respeito à divulgação das suas informações por meio das demonstrações financeiras com o Troféu Transparência

A 26ª edição aconteceu em outubro e reconheceu as empresas que seguem as melhores práticas contábeis, em um esforço para apresentar o conjunto de informações mais objetivas para o mercado.

O Accountfy foi um dos apoiadores oficiais da premiação. Conversamos com Marta Pelucio, presidente nacional da ANEFAC, sobre governança, transparência e a importância do prêmio.

A relação entre governança e transparência

Qual a importância de uma empresa ser transparente com suas demonstrações financeiras? 

Por meio das demonstrações financeiras é que qualquer indivíduo ou entidade tem informações sobre o desempenho de uma entidade e de sua situação patrimonial. Quanto mais transparente a empresa for, melhor será a qualidade da informação que chega para esses entes externos. 

Empresas de qualquer tamanho devem prezar por isso?

Independentemente de setor ou do tamanho da empresa, se tivéssemos uma cultura de total transparência, teríamos um mercado cada vez mais confiável para nossos investimentos e para nossas análises e toda a sociedade ganha com informação de boa qualidade. Meu sonho é de que entidades de diferentes portes e áreas de atuação publicassem de forma transparente suas demonstrações financeiras. Mas, infelizmente, as empresas fechadas, que não negociam seus títulos patrimoniais ou de dívidas no mercado de capitais, não geram informação para a sociedade. Um funcionário de uma grande empresa fechada não tem informações sobre a situação dela e pode, de uma hora para outra, ficar sem seu emprego, sendo pego de surpresa com recuperações judiciais ou encerramento de atividades, como já aconteceu com multinacionais de grande porte que não divulgam suas informações. Da mesma forma, importantes combinações de negócios acontecem com essas empresas fechadas e nossa sociedade não tem nenhum tipo de informação, não sendo possível mensurar ou avaliar os impactos de suas negociações na nossa sociedade.

Quais são alguns dos benefícios de uma boa governança corporativa?

Os credores sentem-se muito mais confortáveis com demonstrações financeiras que são transparentes e ser transparente inclui a sua ampla publicação. Quando o credor percebe falta de transparência no mercado, reflete sua insegurança no custo da dívida. Mercado não transparente é um mercado caro. Os investidores sentem-se motivados a participar de um mercado que seja transparente e o buscam para aportar seus capitais, pois entendem que quanto mais transparente, menor será o seu risco. Com isso consideram uma taxa de risco alta na precificação das ações, o que é prejudicial para os participantes. O futuro é a transparência.

O que uma empresa deve fazer para começar a ser mais transparente?

Ela deve pensar com a cabeça do seu leitor. Se colocar no lugar dele e refletir: qual informação é importante para que o usuário externo entenda minha operação? Qual informação é necessária para que o usuário avalie meu desempenho e os riscos do negócio? Uma empresa transparente comunica ao mercado tudo aquilo que é relevante sobre o negócio da entidade, sua situação patrimonial e seu desempenho. Usa uma linguagem acessível. Tem como foco o processo de comunicação.

Quais são os principais desafios nesse processo?

O grande desafio é interpretar o que a empresa é com base nas diretrizes normativas e regulatórias e traduzir em uma linguagem de fácil comunicação. Dessa forma, primeiro é preciso ter uma boa estrutura de governança que garanta que todas as transações relevantes que impactam financeiramente a entidade sejam devidamente mapeadas, controladas e gerem informação clara para que a contabilidade possa atuar adequadamente. 

Outro importante desafio é ter uma boa equipe de contabilidade, com bons conhecimentos normativos e boa capacidade de interpretação dessas transações devidamente mapeadas. E, por fim, ter uma gestão comprometida com a qualidade e que tome decisões durante o processo de elaboração das demonstrações financeiras com foco na qualidade da informação financeira que será gerada. 

Qual o nível de transparência e particularidades do mercado brasileiro em relação a esse tema?

Infelizmente nosso nível de transparência ainda é muito baixo em relação ao tamanho do Brasil. Temos empresas comprometidas com a bandeira da transparência e que são exemplares. O problema é que são poucas quando olhamos para o nosso mercado como um todo.Em 26 anos do nosso Troféu Transparência, por exemplo, até hoje somente cerca de 110 empresas foram premiadas.

Existem mercados muito menores nos quais empresas de médio e pequeno porte publicam suas informações. Acredito que teríamos uma sociedade muito mais transparente se todas as empresas multinacionais tivessem a obrigatoriedade de auditar e publicar suas demonstrações financeiras; que toda empresa de grande porte, mesmo que limitada, tivesse a obrigatoriedade de publicar suas demonstrações financeiras no Brasil. Nós deveríamos exigir essa maior transparência. 

Quais são os pontos positivos e ensinamentos que podemos tirar das empresas vencedores do troféu?

As empresas que são exemplo em transparência buscam o que é melhor para o mercado, buscam gerar informações relevantes e compreensíveis, fomentam a discussão e o networking. Cada uma tem um caminho diferente para se estruturar nesse processo de geração de demonstrações financeiras transparentes, mas o objetivo final é sempre o mesmo: gerar informação útil e transparente para o mercado sobre sua situação financeira. 

Ganhadores do Troféu Transparência 2022

Categoria Receita líquida abaixo de R$ 5 bilhões: 

AES Brasil Energia, Cesp, Cogna Educação, Fleury, Irani, Marcopolo, Qualicorp, Rio Paraná Energia, SLC Agrícola e Totvs.                     

Categoria Receita líquida de R$ 5 bilhões até R$20 bilhões: 

B3, Comgás, CSN Mineração, EDP Energias do Brasil, Engie Brasil Energia, Riachuelo, Klabin, Lojas Renner, Sabesp e Sanepar.

Categoria Receita líquida acima de R$20 bilhões: 

Eletrobras, Eletropaulo, Embraer, Magalu, Neoenergia, Petrobras, Raia Drogasil, Suzano, Vale e Vibra Energia.

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