Temas importantes para o líder financeiro do terceiro setor

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Os líderes financeiros do terceiro setor têm a chance de trabalhar para melhorar o desempenho e contribuir para a organização seguir com a sua missão social.

Em uma atuação estratégica, o CFO é o profissional que assume os desafios de transparência, governança e atração de mais financiadores para as entidades sem fins lucrativos. 

Continue a leitura deste material e confira os temas que devem estar presentes no dia a dia dos CFOs para ajudar no crescimento das organizações do terceiro setor.



A gestão do capital de giro e das margens no terceiro setor

O capital de giro e as reservas de recursos são tão importantes para a gestão financeira do terceiro setor quanto para as demais empresas de capital privado. Afinal, as organizações sem fins lucrativos precisam de recursos para continuar com as ações sociais e se manter.

Dane Barata, CFO da Team Rubicon, em entrevista à Forbes, afirma que “muitas organizações sem fins lucrativos estão sacrificando suas missões porque estão preocupadas com restrições de financiamento”.

A ausência de um fundo de contingências pode comprometer a continuidade dessas instituições, sobretudo em momentos de instabilidade econômica e/ou redução na captação de recursos.

Segundo o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), “o gestor deve aproveitar os tempos em que há sobra de caixa para reservar recursos para períodos de escassez, podendo enfrentar, pelo menos, três meses sem receber novos aportes”.

Para o instituto, “no caso de organizações com dependência de incentivos públicos, recomenda-se folga ainda maior (acima de 12 meses), de modo a lidar com incertezas políticas e contingenciamento de recursos públicos”.

O diretor de finanças do Banco Mundial Feminino, Michael Mohr, explica que os controles financeiros internos e a gestão de caixa são desafios que estimulam a otimização dos recursos. 

Barata, ainda em sua entrevista à Forbes, diz "sem margem, sem missão”, em referência à gestão dos recursos e a preservação das reservas da entidade do terceiro setor para continuar o trabalho social que se propõe, mesmo em tempos de crise.

Mapeamento e gestão dos riscos para entidades do terceiro setor

A CFO da Fundação AARP, Trish Shannon, em entrevista à Forbes, explica que “o CFO trabalha para identificar quaisquer riscos ou lacunas no plano estratégico para garantir que a entidade tenha os recursos adequados para atingir os seus objetivos”.

O líder financeiro deve mapear os riscos, identificar seus potenciais impactos à organização e planejar como fazer a gestão caso eles aconteçam.

Por exemplo: gestores financeiros que reconhecem a probabilidade de perda das fontes de financiamento definem neutralizar antecipadamente o risco e pensar em meios para a entidade se capitalizar.

Violações de dados e reformas regulatórias podem ser encontradas no mapeamento de riscos do terceiro setor, o que reforça a necessidade de relatórios financeiros que levantem cenários inesperados.

Uma gestão financeira deve adotar estratégias que assegurem que, mesmo com as adversidades, o time alcance as metas estabelecidas.

Definição de metas e avaliação do desempenho 

A Lei N° 13.019, conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), estabelece que as entidades do terceiro setor devem descrever as “metas a serem atingidas e de atividades ou projetos a serem executados”.

A organização que não cumprir as metas estabelecidas deve, conforme a regulamentação, emitir um relatório de execução financeira com a descrição das despesas e receitas realizadas.

O relatório busca justificar o não alcance dos resultados esperados; o não cumprimento das metas, entretanto, reflete na reputação dessas instituições.

Trish Shannon, em sua entrevista à Forbes, reforça que “a equipe financeira desempenha um papel importante na tomada das decisões - não apenas de uma perspectiva de orçamento, mas também pela sua capacidade de oferecer considerações integradas e estratégicas”.

Entidades que não possuem metas e não fazem avaliação periódica do desempenho dificilmente conseguirão captar recursos dos financiadores, o que impacta o seu crescimento.

Adaptação às normas de contabilidade e do fisco

Os CFOs devem estar atentos às especificações da contabilidade no terceiro setor. Com termos e algumas regras exclusivas, as demonstrações contábeis levam as entidades sem fins lucrativos a permanecerem com abonos de taxas e isenções fiscais.

A ITG2002 (R1) é a norma básica aplicável às organizações sem fins lucrativos. Os Princípios de Contabilidade e a Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral (NBC TG) 1000 – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas também se aplicam a essas organizações no Brasil.

Entidades que seguem normas internacionais de contabilidade (IFRS - International Financial Reporting Standards) devem acompanhar as atualizações delas.

As organizações sem fins lucrativos estão inseridas em um ambiente regulatório que passa por mudanças. Em geral, as atualizações exigem treinamento, monitoramento e auditorias.

Investimentos estratégicos em tecnologia 

No terceiro setor, o CFO é o principal responsável pela comunicação e transparência de informações com os doadores. 

O CFO que faz uma escolha certa do software tem segurança na análise dos dados e ganha qualidade dos seus reportes para stakeholders. A entidade que disponibiliza informações com rapidez e precisão eleva a captação de financiadores.

O guia para a sobrevivência dos CFOs em organizações sem fins lucrativos destaca a tecnologia como o investimento que viabiliza uma visão em tempo real dos ativos, possibilitando a tomada de decisões que levam à eficácia nas operações. A tecnologia também contribui para o estabelecimento de métricas e o acompanhamento das metas.

Contratação e retenção de talentos

A consultoria Talenses Group realizou uma pesquisa em 2021 sobre “qual é o seu propósito do trabalho?” com mais de 1000 entrevistados. O estudo mostrou que cerca de 67% dos profissionais abordados consideraram que trabalhar em atividades que dê prazer e orgulho é um critério mais atrativo que a remuneração.

As entidades do terceiro setor permitem às pessoas unirem o crescimento profissional e financeiro aos seus valores sociais e propósito de vida. 

CFOs repetem em suas entrevistas, conforme as reportagens citadas, que a busca por superávits envolve diretamente o desejo de que as entidades continuem seus papéis sociais.

Com o alinhamento cultural, atuar em organizações sem fins lucrativos exige conhecimento e a necessidade de aprendizado contínuo. 

Trish Shannon, CFO da fundação AARP, esclarece sobre sua vivência pessoal frente a contratações para seu time. 

Finanças básicas, análise de dados e conhecimento de gerenciamento de projetos são competências que buscamos para a equipe de finanças. Igualmente são o profissionalismo, a ética, a gestão de riscos e os controles internos. Também enfatizamos a gestão das relações com as partes interessadas e um forte comando do plano estratégico da organização.” 

O Instituto ACP e o Instituto para Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) lançaram em 2021 o Guia de Gestão de Pessoas no Terceiro Setor. O material está disponível em e-book com download gratuito.

Conforme o documento, organizações sem fins lucrativos têm seus desafios em recrutar uma equipe de alta qualidade, o que leva a ações como programas de treinamento e os projetos de voluntariado. 

Considerações

O líder financeiro de uma organização sem fins lucrativos deve estar atento ao aprendizado contínuo diante das especificações do setor e da transformação digital. O CFO é um dos maiores agentes da causa social da instituição, por isso é exigido responsabilidade, envolvimento organizacional e uma liderança genuína. 

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