Cenário de IPOs em 2022: segundo trimestre de desaceleração e investidores seletivos

Tempo aproximado de leitura: 6 minutos

Após um ano recorde de IPOs em 2021, empresas vivem um momento de incertezas diante da elevada volatilidade do mercado, fruto das crescentes tensões geopolíticas, fatores macroeconômicos desfavoráveis, enfraquecimento das bolsas, entre outros. 

Diante deste cenário adverso, Paul Go, Líder Global de IPO da EY, no recente estudo EY Global IPO Trends Q2 2022 (Tendências Globais de IPO da EY – Segundo trimestre 2022), afirma que com menor liquidez, os investidores têm se tornado mais seletivos. “Eles estão concentrando suas atenções em empresas que demonstram modelos de negócios mais resilientes e escaláveis, ao mesmo tempo em que incorporam políticas e práticas de ESG como parte de seus principais valores. 

Segundo dados da mesma pesquisa, no segundo trimestre de 2022, o  mercado global contabilizou 305 novas ofertas iniciais, movimentando US$ 40,6 bilhões, equivalentes a quedas de 54% e 65% respectivamente.

Já no acumulado do ano, foram registradas 630 novas ofertas e US$ 95,4 bilhões em receitas, equivalendo a quedas de 46% e 58%, sendo que a maior ocorreu na região das Américas, incluindo o Brasil.

Continue a leitura e saiba mais detalhes sobre esse cenário, os principais desafios e fique por dentro de insights e tendências de mercado.

A desaceleração do mercado de IPO nas Américas

Após o mundo ter presenciado níveis recordes em operações de IPO em 2021, as condições voláteis do mercado resultaram em uma desaceleração significativa no primeiro trimestre de 2022. 

Impulsionado pelo quarto trimestre do ano passado, o mês de janeiro foi o que apresentou melhor resultado em termos de receitas e rendimentos nos últimos 21 anos. Ao mesmo tempo, este movimento global de desaceleração vem sendo sentido na região das Américas, com destaque para os Estados Unidos, Canadá, Brasil e México.

Rachel Gerring, Líder de IPO da EY Américas, afirma, no estudo EY Global IPO Trends Q2 2022, que a atividade de IPOs nas Américas permanece tímida em meio a ventos contrários macroeconômicos que continuam impactando o desempenho e a avaliação de diferentes ofertas públicas.

“Esses ventos levaram a uma abordagem de ‘esperar para ver’, pois quando os mercados começarem a se recuperar e a confiança se estabilizar, os segmentos de empresas que irão impulsionar a retomada de IPOs provavelmente serão lucrativos”, afirma. “Assim que o mercado de IPO reabrir, as empresas que se movimentarem rapidamente, poderão aproveitar o momento mais oportuno para seus investimentos.”

Como anda o Brasil nesse cenário

Por aqui, não foi diferente. O país vinha de um movimento elevado de transações nos anos anteriores, mas perdeu força até estagnar no primeiro trimestre deste ano, com nenhuma oferta pública na B3.

Movimentação em 2021

– Volume de operações de IPO: 46 operações

– Valor movimentado: cerca de R$ 65,6 bilhões

– Setores de maior destaque: TI e Serviços; Saúde e Seguros

– Quantitativo por setor: 

  • TI e Serviços com 08 operações, totalizando R$ 6,8 bilhões
  • Saúde com 03 operações, somando um total de R$ 4,8 bilhões
  • Seguros com 01 transação, que sozinha gerou R$ 4,3 bilhões 

Desafios frente à desaceleração

Segundo levantamento da EY, a volatilidade no mercado brasileiro deverá continuar em alta devido aos seguintes fatores:

– Inflação elevada;
– Taxas de juros elevadas;
– Cenário e período eleitoral;
– Preço-base do barril do petróleo;
– Tensões geopolíticas internacionais;
– Enfraquecimento do mercado de ações;
– Aumento dos preços de energia e de cartas commodities.

Nessa mesma direção, Flávio Machado, Líder do Centro de Assuntos do Conselho (CBM) e Sócio-líder de Serviços de Consultoria Financeira e Contábil (FAAS) da EY, analisa o cenário nacional em comunicado de imprensa.

“O ano de 2022 começou muito fraco, se compararmos com o primeiro trimestre de 2021. Isso aconteceu em decorrência de diversos fatores de mercado, como o aumento da inflação e o aumento dos juros como medida para conter esse avanço. Em um ano de eleições, isso acaba aumentando a volatilidade.”

Segundo Machado, é possível que haja alguma recuperação dos IPOs após as eleições, com expectativas de que certas transações que foram adiadas possam ser retomadas, desde que haja melhora dos cenários de riscos internos e externos.

“Setores de infraestrutura, saneamento ou energia podem puxar algumas transações de IPO ao final do ano. Enquanto isso, diversas negociações de fusões e aquisições estão ocorrendo no país, inclusive com o envolvimento de startups. As empresas continuam se preparando para quando o momento for favorável”, afirma.

Apesar dos níveis de incerteza e da forte volatilidade, que forçam a desaceleração das atividades por enquanto, ainda há um apetite por IPOs e emissores preparados poderão se mover rapidamente quando a janela se abrir em meio a mercados mais calmos e propícios.

Mudança no desempenho global no cenário de IPOs

Mesmo com uma queda de 16% no volume, a região da Ásia-Pacífico (AsPac) teve o maior número de transações totais: alcançando 188 IPOs e uma receita de US$ 42,7 bilhões, equivalente a um aumento de 18%. 

Destaque global para os setores de tecnologia e de materiais que estão no topo com 58 IPOs cada, levantando US$ 9,9 bilhões e US$ 5,9 bilhões, respectivamente.

Em se tratando de receita, o setor de energia assumiu a liderança global, com um montante de US$ 12,2 bilhões, fruto de 15 IPOs, sendo que o maior foi realizado na bolsa coreana (Korean Exchange). Já o setor de telecomunicações ficou em terceiro lugar, movimentando US$ 8,6 bilhões em seis IPOs realizados.

Ringo Choi, Líder de IPO da EY Ásia-Pacífico, afirma  múltiplos fatores, desde os bloqueios da covid-19, guerra na Europa, até o aumento das taxas de inflação, além das tensões EUA/China, enfraqueceram o mercado na AsPac no primeiro semestre de 2022.

Na opinião de Choi, uma série de avanços econômicos positivos e novas políticas governamentais na China devem resultar em otimismo, renovando a atividade de IPO em toda a região o restante do ano.

Europa, Oriente Médio, Índia e África

Já a região da EMEA, compreendida pela Europa, Oriente Médio, Índia e África, registrou uma atividade moderada, com 96 IPOs, equivalente a uma queda de 38% em transações em comparação com 2021 e de 68% em receita, totalizando US$ 9,3 bilhões.

“Tempos difíceis e incertezas inusitadas mantiveram a volatilidade do mercado em níveis elevados e levaram a uma atividade moderada. Estamos vendo os investidores sendo mais seletivos e uma mudança histórica de IPOs relacionadas à transição energética e fatores ESG”, afirma Martin Steinbach, Líder de IPO da EY na EMEIA. 

Principais Insights do cenário de IPOs no segundo semestre de 2022

Unicórnios

O declínio acentuado nos IPOs de unicórnios pode ser atribuído à diminuição nas operações de empresas de tecnologia (120 no acumulado do ano de 2022 e 308 em de 2021).

Mega IPOs

Apesar de uma queda acentuada no número de mega IPOs, ofertas públicas de valores muito expressivos a partir de 2021, a parcela das receitas globais vem permanecendo estável até o momento.

Energia em alta no ranking dos 10 mais

O setor de energia lidera com quatro dos maiores IPOs e ultrapassou em volume o setor de tecnologia, mas que ainda é detentor do maior número de transações de 2021 até agora. Telecomunicações, Finanças, Varejo e Indústria obtiveram menor destaque.

Setor de energia

Algumas empresas de petróleo e gás estão optando por desmembrar partes de seus negócios em energias renováveis. Tudo porque os riscos e retornos dessas operações são diferentes da sua realidade. IPOs focados em ESG/energia limpa estão no centro das atenções globais com destaque para empresas que operam com hidrogênio verde, baterias e mobilidade elétrica.

Países do Golfo estão procurando trazer suas concessionárias para outros mercados, como meio de diversificar suas economias para longe da zona do petróleo, utilizando os recursos do IPO para financiar seus investimentos relacionados à energia limpa. 

Setor de saúde e ciência

Permanece baixo em volume e valor comparado ao desempenho de 2021. O desafio é agravado pelo declínio das SPAC, Companhias com Propósito Especial de Aquisição, empresas constituídas para levantar capital a partir de uma oferta inicial de ações, devido ao aumento de medidas regulatórias da Securities and Exchange Commission (SEC).

Indústria

A cadeia de suprimentos global demanda investimento em fabricação de componentes-chave (incluindo semicondutores) para modernização e expansão das suas operações. Com os mercados priorizando cada vez mais a sustentabilidade, indústrias terão crescimento na demanda de soluções em energia renovável.

A atividade de IPO está sendo impulsionada por investimentos em pesquisa e desenvolvimento, focando na captação de recursos para produtos inovadores.

Principais tendências

Incertezas geradas por fatores geopolíticos e macroeconômicos provavelmente permanecerão. Mega IPOs adiados no primeiro semestre de 2022 representam um pipeline saudável de empresas que estarão preparadas para entrar no mercado quando as janelas se abrirem.

O setor de tecnologia provavelmente continuará como o líder em termos de número de negócios, mas ampliará seu foco com as energias renováveis, à medida que os preços do petróleo aumentam.

Com os níveis de liquidez em baixa, o declínio nos preços das ações e o boom de aberturas de capital nos últimos dois anos, investidores estão se tornando mais seletivos e priorizando empresas sadias e escaláveis financeiramente.

ESG continuará a ser um tema-chave independentemente do setor para investidores e candidatos a um IPO.

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